Encontrar-se

We Heart It
ando tentando me encontrar
e nesse ciclo
já me perdi tantas vezes
que não dá pra contar

não sei quando chegarei
ao meu desejado destino
ou se talvez já tenha chegado
afinal, eu estive aqui o tempo inteiro.

Sete minutos depois da meia-noite

Conor é um garoto de 13 anos de idade, com muitos problemas na vida. Seu pai é muito ausente, a mãe sofre um um câncer em fase terminal, a avó é uma megera, e ele é maltratado na escola pelos colegas. No entanto, todas as noites Conor tem o mesmo sonho, com uma gigantesca árvore que decide contar histórias para ele, em troca de escutar as histórias do garoto. Embora as conversas com a árvore tenham consequências negativas na vida real, elas ajudam Conor a escapar das dificuldades através do mundo da fantasia.
 Recentemente, navegando na Netflix em busca de algum filme que me chamasse realmente a atenção, passei os olhos por um, intitulado Sete Minutos Depois da Meia-Noite ("A Monster Calls"). A sinopse me chamou a atenção na hora, e eu pensei "cara, eu preciso assistir isso!". Foi então que dei o play e entrei para o mundo de Conor O'Malley, um garoto na pré-adolescência e repleto de problemas.
Talvez por ser meu tipo de filme, fiquei presa logo no início, prestando atenção em cada detalhe. É um filme realmente cativante, com um belo cenário de cidade de interior, o elenco bem elaborado, onde podemos ver a melancolia de Conor, a dor da mãe e severidade misturada com preocupação da avó de Conor. Sem contar que ainda temos a presença do monstro, que aparece sempre sete minutos depois da meia-noite (referências), com uma história ou alguma lição para Conor. 

É um filme que eu realmente recomendo. Acaba sendo uma metáfora sobre lidar com a perda de um ente querido, algo que vai acontecer com todos nós, e algumas outras lições que você pode captar no decorrer da história. Como, por exemplo, uma das minhas citações favoritas veio do pai de Conor, "o amor nem sempre é suficiente, ele não nos dá todo o suporte. Algumas pessoas vivem meio bagunçadas a vida inteira, e está tudo bem". 


O choro é livre.

Espero que assistam esse filme e, assim como eu, encantem-se pela história, com uma dura realidade por trás.

Um beijo e até logo.

Eu serei bom, por todas as vezes que eu não pude

We Heart It

Três horas de sono. Era o máximo que aquele homem dormia todos os dias. Ele esfregou os olhos, de um tom de azul pálido, e encarou o teto do quarto. Estaria completamente escuro se não fosse pela fraca luz da lamparina amarelada, acesa no criado-mudo ao lado da cama. As paredes verde musgo do minúsculo quarto estavam descascando. Garrafas de rum e algumas bebidas baratas espalhavam-se pelo chão, junto de folhas amassadas de projetos que o homem havia fracassado. Ele sentiu na boca o gosto amargo de seu hálito misturando-se à bebidas que ele já nem reconhecia.

Suspirou. Sentia um imenso vazio no peito. 

O homem levantou-se preguiçosamente, arrastando-se até o cômodo ao lado, um banheiro tão pequeno que mal cabia ele mesmo. Encarou seu reflexo no espelho, as olheiras profundas rodeando seus olhos, como se tivesse tomado um soco — melhor se tomasse mesmo —, uma cicatriz que atravessava a boca de alguma briga que já nem se lembrava mais. Às vezes, não conseguia lembrar até do próprio nome. David? Dave? Derek? Achava que era Dave. Não que importasse mais. Aquele homem, sozinho na velha casa de número 270, não era ninguém. Era invisível na vida das pessoas. Temia que algum dia algum corretor de imóveis invadisse sua casa, pensando que estivesse desabitada, e se deparasse com aquela pobre criatura.

Mas ele queria ser bom. Repetia várias vezes durante os dias, eu serei bom, mesmo sem saber o que aquilo significava. Ser bom para quê? Para o mundo? Amar o mundo como deve se considerar o certo? Ele não sabia. Só queria ser.

Encarar-se no espelho era como encarar o próprio demônio, e talvez ele realmente o fosse, pelos pecados, erros, cicatrizes abertas e lágrimas que não pertenciam a ele, mas foram causadas por ele. Todos esses anos, esse maldito passado obscuro que o fizera acabar naquela situação, o atormentava. Esses pecados que o fizeram tornar-se aquele ser vazio e sozinho.

Talvez, no fim das contas, ele merecesse isso.

Sabia que, por mais que quisesse que tudo acabasse, não acabaria. Ele continuaria assim.

Eu serei bom, murmurou. 

Bom para quem? Ele não sabia. Para ele mesmo? Talvez. Mas, algum dia, ele seria bom. E, enquanto não conseguisse entender como ser, ele continuaria vendo o demônio todas as manhãs, no espelho do banheiro daquela humilde casa, embebedando-se com aquelas bebidas do bar da esquina, fumando maços e mais maços de cigarro por dia, e dormindo três horas todo santo dia.

Eu vou ser bom por todas as vezes que eu não pude.



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